Sábado, 11 de Outubro de 2008
Começou a contar com os dedos da mão e fez uma rápida contagem mental dos homens que foram seus. A conclusão era absurda, todos eram clones uns dos outros, estilo bonecas folclóricas russas; ocos, adornados com cores apetecíveis e igualitos, um tédio. E bem vistas as coisas nenhum homem tinha sido seu; eram todos de si próprios ou melhor dizendo de ninguém pois invariavelmente nadavam no limbo do seu auto desconhecimento. Depois passou à contagem do número de dias que faltavam para ir de ferias e o mundo passou a fazer sentido bem como o sistema decimal.
Maria João
De Anónimo a 15 de Outubro de 2008 às 20:11
Evitou o suspiro, como quem desiste de olhar para trás após dobrar a esquina. Lembrou-se de esperar. Repetiu os passos até ao fim da avenida, seguindo com o instinto os olhares assustados iluminados pela pálida luz dos tabliers. Lembrou-se de esperar. Atravessou a estrada, evitou os olhos incómodos de quem o vê como um objecto, antecipou o arame cortado e entrou na escuridão, por entre os contentores. Desistiu de esperar. Avançou por entre as enormes caixas de metal, roçando a pressa pela ferrugem. Passou a língua pelos lábios e sentiu algum sal. Não quis esperar. Passou a mão pela testa, sentindo-lhe frio e calor ao mesmo tempo. Sentia-se livre naquele labirinto de formas e sombras, por onde vagueava aos ziguezagues, numa linha recta até ao rio. Preferiu ignorar a espera e antes de lhe ver o rosto, beijou o ar morno da noite.
Descobria essa escrita em 1000, o teu anónimo trás a assinatura, as impressões digitais. Obrigada pelas lindas palavras...já tardavas amiguinho
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