. Pó vivo!
. As duas Casuarinas - Cont...
. Profecia Familiar - Bem q...
. Noticia de ultima hora - ...
. Tai
. Romantismo masculino/Toda...
. Quem tem uma Tia assim nã...
Quando era criança, ela adorava esconder-se dentro do guarda-fatos. Havia uma prateleira bastante grande, do tamanho certinho para ela aninhar-se, cercada pela aconchegante ordem de montes de lençóis, toalhas, mantas e travesseiros, rodeada pelo cheirinho gostoso a lavanda e sabão azul e branco, envolvida por uma luz dorminhoca. Lá o mundo externo e o mundo interno pareciam fundir-se num mundo único, singular e pessoal e o tempo parecia parado. Na experiência do lugar secreto, sentia-se protegida, segura e próxima daquilo que sabia ser profundamente íntimo.
Cresceu e deixou de caber naquele esconderijo, onde literalmente se tornava invisível e invencível. Devido à prazenteira experiência infantil dos esconderijos desenvolveu um deslumbramento por entradas e compartimentos secretos dentro de mansões misteriosas, jardins, castelos, cascatas, santuários e pirâmides imensas sem falar de uma indiscutível fascinação por gigantes bons que em apenas um abraço bem apertadinho – por artes magicas – permitem encapsular por uns instantes.
Maria João F.
Conheceram-se em Israel ainda Cristo era vivo. Ela despediu-se dele junto do muro das lamentações, foi com uma tristeza profunda e em pranto que o fez, com a promessa selada de um dia se reencontrarem. Combinaram sinais para se identificarem, gestos soltos, toques de mãos, olhares misteriosos e senhas elaboradas e de natureza oculta, qual irmandade secreta. A vida dela com a dele andou desfasada durante existências sem fim. Deambularam pela terra sozinhos em rotas diferentes, perderam-se neles vezes sem conta e no universo foram nómadas de si mesmos, tentaram parecer felizes, tentaram parecer trágicos, tentaram, tentaram e tentaram. Ela procurou-o incansavelmente; com varinha mágica, mapas astrais, bolas de cristal, tarot e outras coisas mais. E quando já tinha lançado as cartas todas e só restava uma pequenita réstia de esperança, apenas uma pequena luz que lhe ancorasse o espírito, viu-o no alto de uma torre e soube-o instantaneamente, não foi necessário uma parafernalia elaborada de indícios, apenas um relance e ela finalmente achou-o.
Maria João F.
Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
Óscar Wilde
P.s. Acrescentar alguma coisa a este texto magnífico é um abuso e um crime tremendo. Ele era um portento, um hino a sensibilidade humana. Quando leio o Gigante Egoísta de Óscar Wilde ao meu filhote, fico sempre tão sensibilizada que choro compulsivamente e intusiasticamente, na realidade nunca me deparei com um conto mais lindo que aquele, que mexesse tanto com o que é mais primordial e tocantemente puro. Sinceramente não sei como agradecer-lhe pelos momentos de prazer que ofertou a mim e ao meu menino. Sem duvida ele faz parte integrante da educação dos afectos do meu petiz, na esperança que ao crescer busque mais além a centelha do que nos faz homens. Para ti Oscarsinho, onde estejas, provavelmente no lado direito do criador, um beijo repenicado na tua testa.
Maria João F.
Fiz o pino, o Meste de Aikido teve a ideia peregrina de mandar toda a gente fazer essa proeza, senti vergonha em explicar que tinha um trauma de infância, que um belo dia e com direito a plateia ao fazer esse exercício me esqueci das mãos e olimpicamente me estatelei no chão, que a lembrança ainda doía e que a vergonha desse patético incidente tinha deixado marcas, limitei-me a referir a minha pouca força nos braços, acompanhando essa constatação com o ar mais infantil possível, na tentativa frustrada de que uma onda empática me enfia-se a salvo para lá de Marraquexe. O desapiedado concluiu num português arrevesado com sotaque francês “é por isso que você cá está!” e pronto perante um grupo de 20 e tal artistas eu fiz o raio do pino, na realidade correu lindamente (modéstia à parte). Estava eu de cabeça para baixo, plenamente imortal, sentindo-me poderosa, volta meia e meia e tal acontece, e no autismo resultante da circulação excessiva de sangue na cabeça e da perspectiva alterada do mundo, pensei:
- Faço o pino;
- Detesto o budismo contemplativo do gerúndio algarvio, que raiva, tenho impregnada a noção de tempo atabalhoado de quem nasceu em Angola;
- Por que raio é que na mensagem que enviei não foi mais assertiva, despachada (com o local, hora e dia do café) hummm?
Pois, acho que a resposta se encontra no pino e na constatação de que no balanço me poderem eventualmente faltar as mãos.
Maria João F.
Desconheces em absoluto:
Quais as minhas musicas, cantores e grupos preferidos;
A obra que mais adoro, mais me marcou;
O meu poeta, poetisa e escritor(a) preferido(a);
Os poemas que sei de memória e porque significam tanto para mim. O livro que escrevi;
O filme da minha vida;
O meu local predilecto, rio eleito, a minha praia. Os meus lugares mágicos, onde me escondo do mundo e carrego baterias;
A minha memoria mais antiga. Alcunha de infância. As arvores que trepei os muros a que subi. O que me é sagrado;
O que sempre me faz chorar e o que me faz rir e me enche de alegria. Se tenho cócegas ou não;
O meu maior medo, o que faço para o aplacar;
As minhas amizades e as historias que elas encerram, a minha tribo;
A quem dei a minha mão, quem a deu incondicionalmente, quem falhou quando mais precisava e quem sempre esteve presente;
O que eu não perdoo, quem nunca me perdoou, o que perdoei de mão beijada;
O que me arrependo e do que mais me orgulho;
Os meus tombos mais espalhafatosos e aparatosos e como os superei;
Os murros, pontapés e bofetadas que fui distribuindo ao longo do meu caminho e os que levei. As vezes que disse basta e as que por languidez me deixei ir;
Os meus pontos fracos, o meu lado lunar e mais negro, o que não suporto em mim e o que mais adoro;
Quem amo um trilião de vezes mais que a mim mesma, quem me amou, quem não o soube fazer, quem não sabia amar, quem eu esqueci, quem me esforço todos dias por esquecer, quem eu lembro com saudade;
Os meus amores, desamores e paixões assolapadas;
A frase que mais me marcou e quem a disse;
O dia em que me senti mais perdida e o que me senti mais segura, o mais feliz e infeliz da minha vida;
A minha cor predilecta e a que me faz dores de cabeça;
Os aromas que me reenviam para a minha infância. A flor que gosto mais;
O prato e sobremesa que mais adoro saborear. O meu fruto preferido. A comida que segundo consta melhor sei confeccionar e a que é intragável mas teimo em repetir;
O nome que carinhosamente chamo o meu filhote, o nome do seu peluche, o nome da minha gata e da minha boneca predilecta;
Os meus sonhos mais malucos, as minhas ambições, valores, rituais e crenças absolutas, o que não abdico nem morta, os meus limites, o que acredito, as minhas bandeiras, estandartes e causas ganhas e perdidas.
Mesmo que soubesses isto tudo, mesmo que alguma vez te esforçasses em o saber, mesmo que te contasse, muito pouco saberias acerca de mim.
Por isso quando dizes em tom de critica “Pensava que conhecia a senhora”, não tenho mais remédio que te dar razão - não me conheces. Pena que o que sabes a meu respeito, purpurina e lantejoulas à mistura, não te permita ver que não sou aquela que injustamente acusas-te de ser.
Maria João F
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve musica,quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destroi o seu amor proprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto,quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor , ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televião o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão,quem prefere o negro sobre o branco,e os pontos sobre os iss em detrimento de um redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho nos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva que cai incessante
Morre lentamente quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não respondem quando lhe indagam sobre algo
que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar.
Somente a preseverança fará com que conquistemos um estágio esplendido de felicidade.
Pablo Neruda
Foi sozinha enfrentar a fera, vestiu a armadura, pintou a cara com pinturas de guerra, carregou no lápis dos olhos, prendeu a trunfa, colocou um anel que acreditava ter poderes mágicos protectores, era supersticiosa q.b e naquele momento qualquer ajuda era bem vinda, mesmo as de faz de conta. Respirou fundo e cerrou os punhos antes de entrar na arena. Olhou para o Dragão nos olhos, não recuou, foi para além do espaço vital dele não em jeito de provocação mas para mostrar que não se sentia intimidada e era dona e senhora dos seus propósitos. Controlou a voz até atingir o desejado timbre gelado, esgrimiu argumentos sem falha, não titubeou, não gaguejou, não deu parte fraca, não cedeu um milímetro, não baixou por uma vez sequer o olhar, não se curvou, as mãos não tremeram e nunca as escondeu nem as colocou cruzadas em redor da cintura. No final do confronto olhou-se por milésimos de segundo no imenso espelho da sala, reconheceu a miúda "enxertada em corno de vaca" que fora, eximia em andar à tareia com os rapazes, que dava murros e pontapés a torto e direito e que no calor da batalha rebolava na gravilha no recreio na escola indiferente ao decoro de uma menina, chegando a casa, vezes sem conta, de olho amassado, negras e escalpe pelado mas absolutamente cheia de si. Sairá vencedora, para o caso de ali haver vencedores e vencidos, não se sentia nem orgulhosa nem feliz apenas com a sensação de tarefa cumprida. Simplesmente tinha ultrapassado mais um obstáculo, sem um Príncipe Valente montado num garboso cavalo branco, perito em salvar donzelas aflitas de dragões desembestados, apenas com a ajuda de um fiel escudeiro, desta feita uma miúda má, meia-leca, dura de roer, sardenta e refilona que acreditava poder comer o mundo à dentada.
Saiu de lá e presenteou-se com um par de sapatos, bem vistas as coisas as amazonas merecem estar bem calçadas.
O top das melhores frases de sedução via msn:
Premiado na categoria de natureza gastronómica - “Kem m dera ser o teu docinho”.
Premiado na categoria atordoado –“Tu es uma tentacaosinha bem gustoza. Me metes todo zonzo”.
Premiados em exquo na categoria minorias étnicas acumulando com a categoria de persistência - “Bom dia Ciganita doce”, “Boa tarde Ciganita gustoza”, “Boa noite Ciganita gustoza” e “Sonha comigo Ciganita doce”.
Premiado nas melhores frases de natureza dislexica - “Fikei embebecido com o xarme de mulher k tu es”.
Premiado na categoria mística Brumas de Avalon - “Keria ser a água do teu banho e nele transformar-me em bruma”.
O top das melhores frases de sedução presenciais:
Premiado na categoria de conhecimentos ancestrais - “Existe um provérbio chinês que diz: não dês esmola ao pobre, ensina-o a pescar. Deixa-me ser a tua cana de pesca”.
Premiado na categoria de daltonismo - “Perco-me nos teus olhos de negro profundo (os olhos são castanhos)”.
Premiado na categoria de rituais de passagem - “Eras a mulher que eu levava para o altar” e “Contigo eu juntava os trapinhos”.
Premiado na categoria filmes de capa e espada - "Queria ser o Zorro para te raptar".
Premiado na categoria Moda Outono Inverno - "Ficavas muito fashion toda nua na cama comigo".
E aqui vai uma verdadeira pérola… last but not least
Prémio absoluto na categoria da hiper sensibilidade e sensações extra-sensoriais - “Adoro sentir o macio da tua pele apesar de nunca a ter sentido” ou em desespero de causa “Tenho saudades do sabor da tua boca, apesar de nunca a ter beijado”.
Maria João
Logo pela manhã
O termo “dores musicalmente instadas” é criação de Bruno Sena Martins, conceito que eu abusivamente me apropriei e já faz parte inerente do meu léxico.
Maria João F.
Tenho saudade de subir ao castelo imaginando lá encontrar principes e princesas, reis e rainhas
Tenho saudade de aprender a andar de bicicleta sem sequer pensar em ter medo de cair
Tenho saudade de brincar na rua, às escondidas, à apanhada, aos indios e cowboys, imaginando encarnar heróis e heroínas
Tenho saudade da felicidade do primeiro dia de férias e da ansiedade do primeiro dia de aulas
Tenho saudade do primeiro amor, do frio na barriga, quando o "vou amar-te para sempre" era já amanhã
Tenho saudade do tempo em que tudo parecia ter lugar, em que não havia espaço para barreiras, nem necessidade de protecção
Tenho saudade da irresponsabilidade, da imaturidade, da simplicidade, da ingenuidade, da gargalhada espontânea
Tenho saudade das amizades verdadeiras ainda que não infinitas, da clareza de sentimentos...
Mas acima de tudo, tenho saudades de mim.
Ana