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Ele dissertou sobre a sua habilidade como amante. Durante horas discorreu sobre a sua magia única, de como era um exímio conhecedor do corpo feminino, entendido nos seus segredos e meandros crípticos, basicamente tinha acrescentado alguns largos capítulos ao Kamasutra.
Depois deitaram-se, e ele revelou que na realidade era um herói, mais concretamente de banda desenhada, um autentico Lucky-Luck - disparando mais rápido que a sua própria sombra, por momentos ela era Trota Selvagem (o índio pouco impassível) das histórias do cowboy.
Maria João F.
Bastou um seu sorriso,
Numa manhã de chuva,
P'ra os anos que passaram
Deixarem de contar
E ela sentir, de novo,
Entre surpresa e confusa,
A beleza única do seu profundo olhar.
Não há um amanhã
Nem mesmo um nunca mais,
O que foi impossível
O tempo sublimou.
Mas do seu sorriso lindo,
A chuva é testemunha
Da marca invisível
Que p'ra sempre ficou!
Zelian
Entrou numa casa de estilo colonial acompanhada por duas amigas. Elas por magia desapareceram, ela quedou sentada numa mesinha a beber chá servido em cantão bago de arroz. Na sua frente uma janela enorme, de lá assomou o rio das pérolas e juncos coloridos o atravessando, olhando à sua volta viu o que lhe pareciam ser pequenitas salas num nível ligeiramente superior ao solo, o interior das mesmas encontrava-se velado por esvoaçantes cortinados coloridos, de relance constatou que o chão desses pequenos habitáculos era feito de acetinados colchões vermelhos, volta e meia de lá cabeças espreitavam e ela os cumprimentava simpaticamente.
A paisagem era um assombro, o cheiro a incenso inebriante, a beleza daquele lugar era absolutamente mágico.
Sentia-se radiante, finalmente estava a dar grandes passos no conhecimento da cultura Oriental, qual Margaret Mead encontrava-se ali no meio deles, no seu habitat natural, absolutamente iniciatica na arte da antropologia. Uns indígenas sentaram-se junto dela, tentou manter uma conversa, mas o handicap da língua lhe pareceu brutal, constatou que aquele povo afável tentava colmatar o deficit linguístico com o toque, achou curioso e tirou notas.
Mais tarde descobriu que aquela era uma casa de prostituição, optou por sociologia, seguramente psicologia não era o seu forte.
Maria João F.
Passados muitos e muitos anos reencontraram-se. Ela tinha vaticinado que ele viria a ser sociólogo, psicólogo ou antropólogo, enganara-se era engenheiro, sorria menos e tinha um olhar triste. Mantivera-se igual, nem uma ruga ou um cabelo branco para marcarem o passar dos anos, como de resto é cisma nos orientais. Foi em Macau que o conheceu, tinha no sangue uma mistura bem aventurada, era de natureza tímida e reservada, possuía um sorriso aberto com dentes certinhos. Achara-o bom demais para ela e em bom abono da verdade o era seguramente. Deixara um namorado em Portugal, um surfista cheio de pinta e muita parafina na cabeça, prometera esperar por ele durante um ano, com a humidade do ar a rondar os 88% tal rapidamente caiu no esquecimento, já na altura ela tinha queda para pecadora e por conta dos seus olhos rasgados e jeito brando por ele se apaixonou.
Ele apresentou-lhe Palalagui, Saint Exupéry, Desmond Morris, ela deu-lhe pouco em troca; a sua fixação adolescente por David Bowie, poemas de Florbela Espanca declamados com maneirismos trágicos e a sua recente conquistada lealdade de eterna raposa.
Pelos olhos do Chefe da tribo Tiavea de Tuiane, e munidos de instrumentos teóricos de zoologia passearam pelas ilhas da Taipa e Cloane. Mochilas às costas calcorrearam ruas, templos, espreitaram por entre portas. Riam muito e tinham pouco siso, eram papa-léguas, o mundo os intrigava.
Ela foi para a área das ciências sociais, colecciona desde então pedrinhas para marcar datas importantes, espreita sempre as portas entreabertas, é uma cusca militante, presta culto a vários deuses e tudo, tudo graças a ele.
Pena, que volvidos anos, ele seja engenheiro e sorria menos e tenha um olhar triste. Pena que Pigmalião não reconheça a sua Galatéia.
Maria João F.
Armada em chica esperta,
Aproveitei o Carnaval para fazer auto-analise,
Dispensei o psicoterapeuta, era caro demais,
Mandei ao diabo que carregue o psicanalista, era lento demais,
Chamei a empreitada às minhas mãos,
Optei pela psicologia selvagem,
Deitei-me no sofá, de barriga para cima,
Coloquei velas para criar o ambiente certo, na esperança de me ver melhor à media luz,
Bombardeei-me com perguntas assaz pertinentes,
Desci à minha infância, trepei até à adolescência, deambulei na idade adulta,
Dissequei o complexo de Electra, o de superioridade, inferioridade, fui as falhas narcísicas, relembrei sonhos e pesadelos, marrei a sério nos paradigmas, fui buscar livros para me apoiar,
Quis chegar a conclusões redondas, ter insights poderosos, entender-me,
Espremi-me, analisei-me, torturei-me, contorci-me,
Vi-me de todos os prismas, de frente e em perfil, de dentro para fora, no espelho, de cabeça para baixo, de cima para baixo, em cambalhota, flique-flaque e de pino,
Foi metódica, comecei por ser cognitiva, segui o velhote Freud,
Depois perdi-me nas deambulações coloridas do alucinado Jung,
Por fim remei para terras mais firmes, rendi-me ao positivismo, estava almareada e tinha pressa,
Em desespero de causa recorri a conhecimentos paralelos, li as linhas da palma da minha mão, as da direita não são iguais às da esquerda, não ajudou,
Lancei o tarot de Marselha, saíram como cartas o louco, enforcado e a torre, fiquei na mesma,
Moída, irritada, furiosa, foi buscar um copo de Whisky e fiz um pouco de yoga aprendida na TV,
Tinha a esperança que ambos me abrissem o espírito,
Como não estou habitada nem ao alcool nem às artes orientais,
Fiquei com dores de cabeças e de coluna,
Considerei tomar 1 miligrama de xanax, socian também foi equacionado, optei por Brufen em pó (é de efeito mais rápido),
Apesar da quadra ser propicia, as mascaras não caíram,
Conclusão se calhar virei um cabeçudo e ainda não dei por isso, ou provavemente as mascaras e Eu já formamos um só.
Maria João F.
Quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há...
Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?...
Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. ama-se alguém. Por muito longe, por muito dificil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos.
Ana
Se bem me lembro ele era barra em matemática, o pior aluno em religião e moral, queria ser futebolista quando fosse grande e tinha uns cabelos castanhos do além. Carlos de nome. Estava perdidamente apaixonada pelos seus cabelos, daquela cor impensável, sonhava em afagá-los todas as noites, perdia o sono a pensar neles, adormecia arquitectando estratégias diabólicas para o efeito. Na sala de aula, retirei um pequeno espelho, com os deditos joguei com a luz do sol, fiz sabiamente a luminosidade incidir neles. Quando me deleitava com o feito, absolutamente absorta naquela habilidade magnífica, ele se virou e me descobriu, intuindo as minhas intenções sorriu, baixei os olhos confessando a manha. Nessa manhã andamos de mãos dadas.
Os meus começos eram sempre assim, mágicos, simples e com luzes à mistura.
Maria João F.
Anos volvidos a meu favor
Tenho o verde secreto dos seus olhos de algas marinhas
O nosso riso fresco
A tua mão compondo o desalinho dos meus cabelos molhados
O tapete das ondas em dia de levante
O abraço redondo
A inocência abençoada pela água do mar
O refúgio de uma memoria sagrada
Tenho tanto tanto tanto
Maria João F.
A poça era lamacenta, um palmo de água, musgo e barro à mistura. Perante tal obstáculo instintivamente pensou
Maria João F.
Sobre a égide da água, apresento este belíssimo poema de Carlos Drummond de Andrade (ou Carlitos, somos intimos numa realidade paralela).
O faço na esperança de dar ideias ao pessoal menos criativo no que toca ao erotismo - Deus sabe como existem pessoas parcas nestas lides (nabos para ser mais exacta), e pouco dadas a este tipo de actividades lúdicas, a triste realidade é que existem analfabetos na arte de amar.
Aviso desde já que a execução do mesmo exige preparação física, espero que ninguém se estatele, e depois venha a acusar este pacifico blog de ter ideias subversivas.
Sob o chuveiro amar
Sob o chuveiro amar, sabão e beijos,
ou na banheira amar, de água vestidos,
amor escorregante, foge, prende-se,
torna a fugir, água nos olhos, bocas,
dança, navegação, mergulho, chuva,
essa espuma nos ventres, a brancura
triangular do sexo -- é água, esperma,
é amor se esvaindo, ou nos tornamos fontes?
Carlos Drummond de Andrade
Material didáctico: Chuveiro, banheira, água e sabão.
Maria João F.