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Os olhos ardem-me, tenho-os estrategicamente semicerrados, encontro-me camuflada por detrás de uns óculos escuros medonhos, as cores parecem todas histéricas, raivosas, ferem-me a vista. Os cheiros vestiram-se de um adocicado enjoativo que tresanda, as narinas encontram-se dilatadas em estado de sítio. Os sons, mesmo os mais ínfimos ecoam na minha cabeça, como se de uma caixa de ressonância se tratasse, ampliando a enxaqueca de forma insustentável. Exausta comprimo as têmporas mas de nada serve. Apetece-me mandar calar o chefe com a sua vozinha esganiçada de galo capão, cortar com uma tesoura a gravata espalhafatosa, mandar tomar banho à bafienta da colega, que fede a cânfora. Tomo comprimidos ao ritmo de smartis, qual alquimista louca procuro a mistura certa, não ligo à bula, não quero saber dos efeitos secundários, das combinações proibidas e das doses excessivas. Baixo a cabeça, cerro os olhos e fecho com as mãos os ouvidos, deito a cabeça na secretaria, hoje estou de greve geral.
Maria João
Comentário do meu filho ao ler este texto:
Mãe não é caixa de ressonância é caixa magnética, e se o teu Chefe lê isto estás tramada.
O rapaz é sábio.
Na realidade, a ele não lhe foi dado estatuto de gente, a prova disso é que o número de telefone dele gravado na agenda do seu telemóvel foi sabiamente sinalizado com um asterisco, ladeando-o estava o homem reticências e o dois pontinhos, mais dois casos que não se consubstanciaram em forma humana e que seriam anulados sem custo quando ela fizesse um upgrade de dados.
Maria João
Magnânimo como o Papa João Paulo 2º, que em tempos pediu perdão pela Inquisição. Ele acometido do mesmo carácter conciliador, sentindo-se genuinamente culpado pelos erros de outros homens que tinham outrora cruzado o caminho dela, pediu enfaticamente sentidas desculpas em nome deles.
Ela aceitou o dom curativo do pedido, não questionou a legitimidade do gesto, investiu-o desse poder e com um suspiro profundo sentiu-se justiçada.
O que sucedeu a seguir não interessa, se ouve mãos dadas, beijos trocados, se rolaram pelo chão inventando uma nova religião. Que adianta se era amor, amado, amante, certamente amigo ou apenas algo congeminado. O que conta é que ele tinha o dom curativo e a conciliou com o passado.
Não era suposto que ao perdão ele acrescenta-se novas culpas, não era suposto...
Maria João
- Podemos passar anos sem viver em absoluto, e de pronto toda a nossa vida se concentra num só instante.
- Bonito, muito poético, estou a ver, mais um caso de Mouro na costa, quem é ele?
- Não gozes, estou a falar de insighs profundos, de zénites e vórtices.
- Pois, pois...deixa-te de histórias e desbronca-te lá. Quem é o artista?
- Caramba que visão reducionista, foi um momento de iluminação interior.
- Aí amiga, estou a ver, foi mas é um bruto de um flechasso. Deixa-te de tretas, quero saber todo os detalhes acerca do Don Juan de pacotilha.
- Uma pessoa já não pode ter uma reflexão puramente filosófica?
Woman: Do you believe in love at first sight?
Mae West: I don't know but it saves an awful lot of time.
— Mae West, Night After Night
Maria João
Ébrio de tristeza, deixou tombar a cabeça no travesseiro duro. A Dama-da-aldeia-das-flores-que-caem inclinou-se para ele e murmurou tremurosa:
- Não havia acaso em teu palácio outra mulher, cujo nome não pronunciaste? Uma mulher meiga? Uma mulher chamada Dama-da-aldeia-das-flores-que-caem? Ai, recorda-te...
Mas já os traços do príncipe Genghi haviam conquistado aquela serenidade que só aos mortos é reservada.
(...)
O único nome que Genghi esquecera era precisamente o dela.
A proposito do esquecimento, daquele encontro raro como estrelas em noite de chuva, cegueira, da sombra e do não Ser, trouxe para este espaço este pequeno excerto de Marguerite Yourcenar dos Contos Orientais - O último amor do príncipe Genghi.
Maria João
Aquele era o tempo em que as mãos se fechavam
E nas noites brilhantes as palavras voavam
E eu via que o céu me nascia dos dedos
E a Ursa Maior eram ferros acessos
Marinheiros perdidos em portos distantes
Em bares escondidos em sonhos gigantes
E a cidade vazia da cor do asfalto
E alguém me pedia que cantasse mais alto
Quem me leva os meus fantasmas
Quem me salva desta espada
Quem me diz onde é a estrada
Aquele era o tempo em que as sombras se abriam
Em que homens negavam o que outros erguiam
Eu bebia da vida em goles pequenos
Tropeçava no riso abraçava venenos
De costas voltadas não se vê o futuro
Nem o rumo da bala nem a falha no muro
E alguém me gritava com voz de profeta
Que o caminho se faz entre o alvo e a seta
Quem me leva os meus fantasmas
Quem me salva desta espada
Quem me diz onde é a estrada
De que serve ter o mapa se o fim está traçado
De que serve a terra à vista se o barco está parado
De que serve ter a chave se a porta está aberta
De que servem as palavras se a casa está deserta
Quem me leva os meus fantasmas
Quem me salva desta espada
Quem me diz onde é a estrada
Composto e escrito por Pedro Abrunhosa e assinado por baixo por mim.
Maria João F.
Quando pequenina nas noites de trovoada seca, lá para as bandas da Guine, adormecia contando os anjos que atravessavam as frestas das janelas. Os anjos eram muitos nesses tempos de guerra. Contava-os com a fé de que eles finalmente dessem por ela, mas era em vão, eles viviam numa dimensão diversa da humana e bem vistas as coisas a criança também.
Maria João F.
Hoje, por nenhum motivo especial, quero agradecer...
Àquela que esteve sempre presente,
Que nunca me virou as costas
Que me limpou as lágrimas de riso e de tristeza.
A que me deu ombro quando precisei,
Que me ofereceu os braços para me aninhar
A que me acompanhou nas minhas loucuras
Sem uma palavra de critica
Àquela que fez de mim aquilo que eu sou hoje (para o bem e para o mal)
Que me desculpem os restantes (que estão sempre no meu pensamento)
Mas hoje eu quero agradecer à pessoa mais importante da minha vida ...
EU
Ana
Amo a expressão “filho da minha alma”, avanço que a uso com muita propriedade com o meu filhote, principalmente no momento consagrado ao choco antes dele adormecer. O digo de uma forma redonda, saboreando a força daquela verdade perfeita. Ele é seguramente filho da minha alma, geneticamente o pai contribui-o com 50%, isso dou de barato as provas cientificas são inquestionáveis, mas quanto a essência da alma, não ouve fusão alguma, ela veio inteirinha de mim, disso não tenho duvidas e não estou aberta a discussões teológicas, fui um caso de produção de alma independente.
Maria João