. Pó vivo!
. As duas Casuarinas - Cont...
. Profecia Familiar - Bem q...
. Noticia de ultima hora - ...
. Tai
. Romantismo masculino/Toda...
. Quem tem uma Tia assim nã...
Tinha um medo real de ver o pôr-do-sol, que se consubstanciava no receio de secar a vista com aquela visão, aquele receio era o único que lhe restava da sua passagem pelo antigo testamento, era assim uma espécie de achaque bíblico de estimação.
Maria João F.
Quero ser igual, regularizada como as maças do Modelo.
Isso mesmo, já descobri, quero ser uma maça Golden, sim isso mesmo, quero saber a plástico asséptico e ter a textura do papel de lustro. Finalmente vou ter lugar numa prateleira, encaixotada no sítio certinho, ao lado das minhas irmãs uvas morangueiras e peras rocha.
Hoje sonhei contigo...
Foi tão real
Ouvi o teu riso
Vi os teus primeiros passos
Peguei nas tuas pequenas mãozinhas
Sentei-te no meu colo
Aconcheguei-te no meu regaço
Pude sentir o calor do teu pequeno corpo tão indefeso
Zelei pelo teu sono
Acordei e as minhas mãos estavam vazias de ti
O meu colo frio....
Perdoa-me as lágrimas que rolam pelo meu rosto
Perdoa-me a minha fraqueza
Estou vazia de mim...
Até um dia meu amor...
Vou contar o melhor que sei uma história antiga, assim como a tua do coelhinho branco e do sapinho.
O Amor na sua caminhada pela terra encontrou três barqueiros junto de um frondoso rio. Em voz calma pediu ao primeiro: - Barqueiro, podes levar-me para o outro lado do rio? A que ele respondeu em voz inebriada de angústia: - Não posso é impossível para mim!
O Amor não desistiu, e interpelou, o segundo barqueiro, que divertido jogava pedrinhas nas águas do rio. – Não, nem pensar, não posso – recusou secamente.
O terceiro e último barqueiro, não esperou que o Amor viesse pedir-lhe auxílio. Levantou-se, tranquilo, e, estendendo-lhe, bondoso, a larga mão forte, disse-lhe: - Vem comigo! Levo-te para onde quiseres.
Quem és tu perguntou o Amor? E quem são aqueles dois que se recusaram a atender ao meu pedido?
O primeiro é o Sofrimento; o segundo é o Desprezo. Bem sabes que o Sofrimento e o Desprezo não fazem passar o Amor!
- E tu, quem és, afinal?
- Eu sou o Tempo, meu filho – atalhou o barqueiro.
– Aprende para sempre a grande verdade. Só o Tempo é que faz passar o Amor! E continuou a remar, numa cadência certa, como se o movimento de seus braços possantes fosse regulado por um pêndulo invisível e eterno. Sofrimento, desprezo…Que importa tudo isso ao coração Apaixonado? O Tempo, e só o Tempo, é que faz passar o Amor.
Eu sei que está mensagem tem duplo sentido, sei que tem informação velada, sei que o amor é também um cabaz de maças suculentas, mas hoje que o dia está lindo, acordei acreditando nesta verdade redonda e simples envolta em gotinhas de agua fresca, como convêm nesta manhã de verão.
Maria João
Essa tendência tonta de seres esquiva e totalmente franca. De te esconderes ou de mostrares até o teu umbigo pintado. Esses mil e um cuidados de te preservares, para acabares por contar a tua historia, com todos os pormenores a quem se entrincheira em montanhas de segredos. Essa vontade furibunda de saíres a correr feita danada quando alguém mostra que começa a conhecer-te, e essa desmesurada vertigem de ficares quieta e leda. Essa insana sede de alguém - e de ficar orgulhosamente só. Essa vontade de mudar sem renunciar o que és. Essa fome esfaimada de impossíveis. Como reflectir no meio deste turbilhão de ideias contraditórias? Esse oito e oitenta, tudo ou nada, ferro o fogo, verdade e mentira. Brincadeira de um jogo infantil do gato e do rato, um dó li tá, era de mendá, um sulete colorete, um dó li tá.....
Nada a fazer miúda tonta, olha-te ao espelho e deita a língua fora, ri-te um bocadinho de ti, se não chegar olha para os dedos dos teus pés, deditos separados como os pés de um macaco trepador de arvores, miúda ri-te de ti, ri.
Maria João F.
Como peregrina,
Pairo na fé, alma e corpo nu,
Despojada sou a minha caminhada e pouco mais,
Não escondo, guardo intactas emoções num coração adoidado,
Contas do meu rosário,
Que Deus o guarde assim!
Em jeito de prece, pedincho que não arda o medo onde o amor rebenta,
Abro o peito, baixo as defesas,
Em mentira sincera juro que mordo,
Deixo nascer o levante no meu peito, para com ele derrubar de vez mágoas amantes,
As tuas e as minhas,
Não se iludam, não sou santa, já dei a comer e comi o pão que o diabo amassou,
Não o fiz por maldade, o Mafarrico é testemunha,
O meu Deus me perdoou!
Baixo a cabeça, como só o fazem os pássaros de cativeiro,
Como o papagaio apelidado de Espírito-Santo,
Dou a patita em jeito de entrega, recolho as garras afiadas,
Troco gadanhos pelos meus erros crassos, cruzes, rezas e amuletos,
Presto culto ao meu Criador,
Ele tem fraquezas, dúvidas e momentos de bebedeira colossais,
Que seja o que o meu Deus Pagão quiser!
Maria João F.