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O pseudo candidato a Romeu tinha o braço direito todo tatuado, do pulso até ao ombro, a temática profícua incluía caveiras, tridentes e uma doce e subtil alusão às chamas do inferno, segundo me revelou também tinha dois piercings encravados nos mamilos, estes últimos eu fui poupada de os ver.
Maria João
Ontem Deus sentou-se a admirar a sua obra, e o fez exactamente, em cima da minha cama, de janela aberta com vista para o mar. Deus e Eu somos assim, muito toca-tu-lá, íntimos, unha e carne. Acabei por falar dos meus problemas: da taxa de euribor que atingiu o meu máximo, o exponencial aumento da gasolina, e a crise de homens como deve ser (um conceito algo difícil de explicar). Ele confessou estar um pouco desactualizado dos problemas mundanos e tinha-se desinteressado pela política, quanto aos homens confessou-me queixar-se do mesmo e de os ter topado desde Adão ter feito queixinhas de Eva, "revelaram ser uma decepção" disse ele em voz grave enquanto bebia um batido de manga feito na bimbi.
Maria João
Demorei demasiado tempo a compreender que não íamos para a vida, um dia depois do outro, carregando as nossas feridas, as nossas cicatrizes, os nossos mortos, os nossos fins, as derrotas, os enganos e os arrependimentos. Mas sim, a cada vez que abrimos a porta de casa e saímos para a vida (ao som do espanta espíritos) fazemo-lo com os livros que lemos, os filmes que vimos no escurinho do cinema, as canções que escutámos, as histórias que conhecemos, a força e a sabedoria que herdámos dos Seres lindos que nos acompanham e vamos encontrando afortunadamente na nossa caminhada. E com a certeza absoluta que amamos incondicionalmente mais pessoas de que uma mão cheia de gente. Assim, devagarinho, crescemos seres humanos melhores e deliciosamente humanizamo-nos.
Maria João