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Quando era menina corria em dias de vendaval, corria pela simples vontade de querer levantar voo. Lembro-me que esperava pelas mais violentas rabanadas de vento, abria os braços como asas, dedinhos bem espalmados, esticava uma perna para trás, esperava a melhor oportunidade e fazia uma tesoura no ar, com a esperança que esses milenaríssimos de segundo fora do solo me permitissem levantar o tão almejado voou. Após cada tentativa frustrada sentia-me cada vez mais perto desse desiderato.
Verdade o meu cabelo era às três pancadas, mínimo, tinha portanto o corte aerodinâmico certo. Era também um pau de virar tripas, levezinha o que tornava essa quimera completamente exequível. Vendo bem os piscos voam e eu era um pisco que por engano de um Karma desregulado tinha tomado a forma de gente. Levava tão a peito essa ideia que um belo dia, na praia da areia branca resolvi saltar de um murro altíssimo, abri os braços estiquei-me em ares de certeza absoluta e estatelei-me violentamente, com essa proeza fiquei mais baixita uns valentes centímetros, as dores da queda escondi para mim, há muito que sabia que a minha crença era vista como mais uma das minhas loucuras de miuda alucinada.
Enfim, exposto isto, escusado será dizer que houve em mim um claro e inadmissível erro de transmutação de almas, reencarnei na forma errada, não sou para minha pena uma ave de 14 cm com o peito e a testa de cor laranja ferrugínea, monogâmica e territorial. Na próxima vida ou venho como pisco ou vou directo para o nirvana, não aceito outra alternativa, não aceito mais erros, bando de incompetentes cósmicos.
Maria João
Porque foste na vida
A minha grande esperança
Encontrar-te me fez
Criança.
Porque já eras meu
sem eu saber sequer
Porque foste o meu Homem
E eu tua Mulher.
Porque tu me chegaste
sem me dizer que vinhas
Tuas mãos foram minhas
Com calma
Porque ÉS a minha Alma
Como um amanhecer
Porque foste
O que tinha de ser!
ZeliaN
"A Beleza não é uma experiência de mistério, mas Divina que, se a experimentares junto de Alguém, não a deves estragar pela pressa de a entender.
Hás-de ver como ela te transformará, aos poucos, sempre que essa pessoa, ao pé de ti, te trouxer à ressurreicão "pequenos nadas" com que - apesar de os rios correrem (sem metafísica) para o mar - te tornarás numa pessoa mais surprendível e melhor."
ZeliaN
Este fim-de-semana foi nosso: meu, da João, das nossas crianças, dos meus animais. Mar, Sol, Praia, Luz , Amizade. Tudo Perfeito!
E fizemos descobertas:
O pseudo cavalheiro revelou-se sem emoção, sensibilidade ou educação.
O marginal, agarrado a vários anos de prisão, revelou intuição e coração. Coração bonito. Vermelho e sumarento. Coração de morango. Doce.
E tudo ficou certo...
ZeliaN
Vejo-me à distância, com uma mirada de quem analisa um bichinho de outro planeta. O meu corpo bóia na água cristalina, sinto o som do universo, o pulsar da natureza. A minha alma paira no céu entre nuvens brancas gulosas de azul e gaivotas que silvam alegres no ar. O corpo repousa, é uno com o liquido amniótico da mãe terra. Sou mais do que podia ter sido, bem mais, trilhei outras linhas no destino escrito na palma da mão, sou a prova irrefutável que o livre arbítrio existe, rompi amarras, refiz a minha fé, reinventei-me, sou uma mulher inteira, feliz com o caminho que trilhou, em paz com os erros do passado, sou um caso bem sucedido de vida. Ainda bem que nasci!
P.s. Verdade tive a bênção de curandeiras, não o consegui sozinha, a elas o meu eterno agradecimento. Foi um post arrancado a ferros, mas apartir deste dia ele será sempre verdade, jurei a mim mesma.
Maria João
Desde pequenina acalentava um sonho, nadar com golfinhos. Na costa alentejana passavam grupos alegres de golfinhos-ruazes e ela pôs em marcha um plano para concretizar esse tão almejado desejo. Documentou-se acerca das diversas formas de os cativar; embalando-os com canções de ninar ou com choro aflito de náufrago à deriva. Num belo dia observou uma barbatana desenhando alegre recortes na água, mesmo juntinho da costa. Entrou no mar em alegria infantil, nadou para junto dele, dançou, cantou com vozinha doce e por fim choramingou com bastante afinco. O bicho contornava-a com clara curiosidade, criando círculos a sua volta. A tentativa durou horas, o seus dedos estavam enregelados os músculos doíam, tinha câibras pelo corpo fora, tremia de frio e estava perto do estado de hipotermia, mas não desistia do seu sonho. Ela com as suas quimeras era assim obstinada.
Uma lancha da polícia marítima aproximou-se e o bicho assustado fugiu para alto mar. Quando chegou a terra frustrada e cansada foi informada que tinha andando a bambolear-se junto de um tubarão-frade, bichinho de 7 metros e muitos quilitos de peso e um focinho de meter medo, várias praias tinham sido evacuadas devido a sua presença.
Vendo bem muitos dos nossos sonhos quando se concretizam são assim, absolutamente estranhos e com um travo de uma ingenuidade comovente.
Maria João
Sentadas no café grão de café, tagarelávamos alegremente deliciando-nos com uma saborosa encharcada. A Dona do estabelecimento informou-nos com ar de roteiro turístico para pacóvias “esses doces convencionais são uma verdadeira delicia”. Com ar de gozo olhei para a Zélia e comentei “doces convencionais!!!”, ela desatou a rir e engasgou-se, ficando literalmente roxinha. Levantei-me em pânico e enquanto gritava “acudam-me…acudam-me!!!” com ar alucinado tentava por em marcha uma Manobra de Heimlich patética. Coloquei-me atrás da vítima convencional e, com os braços ao redor da cintura, com a mão fechada, fazia pressão no abdómen na esperança que o corpo estranho fosse expelido. A minha amiga levantou o braço, pensei deve ser o estertor final, o derradeiro Adeus. A seguir só me restava fazer-lhe uma incisão na garganta com uma caneta bick, tinha visto tal ideia peregrina numa série televisiva. O pessoal que observava o drama de bancada deduzia que estávamos numa representação teatral algo aparatosa, ou tal se inscrevia nos comportamentos veraneantes de pessoal da capital, que como é sabido não regula bem da tola por causa do stress, pelo tanto ninguém vinha em nosso socorro. Finalmente, e graças a Deus, a encharcada saltou-se podendo a minha amiga retomar as gargalhadas que tinha interrompido, dando a certeza ao publico que para nós olhava tipo Nacional Geographic, que sem duvida éramos doidinhas de todo.
Maria João
Maria da Luz é uma gata adolescente com um passado bastante conturbado, teve uma ninhada ainda muito jovem a que perdeu o rasto (nem imagino a dor que sentiu), um acidente de viação que lhe deixou o rosto estraçalhado, encontrava-se num gatil em Castro Marim quando a fui buscar. É uma pura rafeira de Vila Real de Santo António, olhos azuis marinhos, corpo magro e elegante, porte estranhamente aristocrático, pêlo curtinho branco entrelaçado com manchas castanhas, grandes orelhas pontiagudas rosas pintalgadas com sardas (sim tem sardas como eu e isso nos une visceralmente criando uma irmandade secreta – pouca gente sabe disso, mas fazemos um poderoso lobby, a maçonaria ao nosso lado é um grupo de escuteiros iniciáticos). Ela é de uma beleza que se aprende a gostar, vai cativando e crescendo, não cria paixões arrebatadoras mas amores profundos construídos com o doce passar do tempo. Em vidas passadas foi uma mulher negra degredada para Castro Marim, onde a enforcaram em praça publica, isso ela contou-me nas múltiplas conversas que trocamos em altas horas da noite, com a janela aberta para a varanda do meu quarto, horizonte iluminado por uma igrejinha retirada de um presépio de António Ferreira. Ela no meu colo a contar as suas magoas, lágrimas no canto do olho, e eu a prometer que a partir desse instante a protegerei de todos os males do mundo, tentando a sossegar dos seus medos de abandono. Em troca só quero que se deixe mimar no meu regaço e que guarde os meus segredos, aqueles que eu antes só contava as pedrinhas do rio de Valdetelhas. Sim em vidas passadas eu...
Maria João