Um blog escrito por três mulheres, funciona como espaço para catarse, debate e exposição de pensamentos soltos.

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Quinta-feira, 25 de Março de 2010

O Deserto, o Sol e o Vento

Cresci nas solidões de Areia, junto ao Mar, coroadas de Nuvens e de Vento. Cresci no meio do sibilar do Vento e das Areias, do marulhar das Águas, à luz intensa do Sol e à meiga luz do Luar...

 

 

 

No princípio, era o Deserto, e o Sol amava-o ternamente, todo o dia. No princípio, o Deserto era liso, todo aberto à luz do Sol, que o abraçava, estreitamente, todo o dia.

 

O Deserto era quente e brilhante e vivia numa passividade feliz - quieto e silencioso.

De noite, o Sol queria o Mar, e o Deserto dormia sozinho, na escuridão. Mas guardava o calor que o Sol lhe dera. e vivia quieto e silencioso, numa passividade feliz.

 

O Vento chegou de noite, quando o Deserto dormia.

 

Olhou o Grande Deserto solitário e sentiu amor. Soprou-lhe devagarinho, num beijo de aragem... e o Deserto sentiu um arrepio e acordou.

O Vento soprou com mais força e o Deserto estremeceu.

Ficaram, frente a frente, sozinhos, na escuridão, o Deserto e o Vento.

- Gostas de mim? - perguntou o Vento.

- Sinto uma alegria nova - respondeu o Deserto.

- É a alegria do movimento. Queres que te dê toda a força do meu sopro?

- Sim - gritou o Vento. - Quero!

- Então o Vento abraçou o Deserto com violência. e toda a noite se ouviu a música forte e harmoniosa que juntos criavam, num bailado de amor.

 

Quando o Sol, de manhãzinha, voltou, abriu muito os olhos e empalideceu. Alguém passara a noite com o Deserto: em vez do areal sem forma, que se deixava dourar passivamente, era um Deserto novo, de dunas altas, belas, orgulhosas, que recusavam ao Sol uma das faces.

- Quem te abraçou, Deserto? - perguntou o Sol.

- O Vento - respondeu o Deserto.

- Não te bastava a minha luz e o meu calor?

- Nunca me deste vida.

- A tua vida é sombra?

- A minha vida, ó Sol, recebi-a do Vento. A minha vida é areia em movimento e o som que dela se desprende e que guardo em mim.

- O movimento é dor; o som é queixa.

- Aceito a dor que é vida; e cantarei, no abraço do Vento, a dor e a alegria de criar, com ele, as minhas dunas...

 

 

 

 

ZeliaN

publicado por mulheresforadehoras às 13:16
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Segunda-feira, 15 de Março de 2010

O Senhor Orlando

O Senhor Orlando, empregado de café, hoje ofereceu-me duas garrafas de ginginha caseiras. Uma para mim e outra para a minha mãe!

No dia da mulher surgiu no meu serviço com um enorme ramo de rosas.
De manhã serve-me com carinho um galão morno mais para o frio e de tardinha um café com três pedras de gelo lá dentro (três nem mais nem menos, é a minha mania), ambos devidamente açucarado com uns simpáticos piropos.
O senhor Orlando nutre por mim uma paixão muito antiga e amplamente publicitada.
Por vezes penso, que faria eu com o Senhor Orlando? Falaríamos de bitoques, bicas e sanduíches mistas? Este pensamento representa o cúmulo do meu snobismo, na realidade nunca nenhum senhor doutor cuidou...do meu galão morno mais para o frio…e isso conta…conta mesmo muitíssimo!
 
 Maria João
publicado por mulheresforadehoras às 15:46
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Adormecer - Escrito pela minha Tia Isinha

Respirei fundo, tomei balanço e avancei. Na mão direita fraldas secas, limpas, brancas, ofegantes por cumprirem a sua missão. No braço esquerdo, acocorado entre a anca e o cotovelo, um pequeno fardo risonho, gorducho, sorridente, vivo, desperto e com um ano de vida. Era um final de tarde quente, sufocante, com a luz do sol ainda toda pronta e eram cerca das nove horas da noite. Meu objectivo pôr a pequerrucha a dormir, sua determinação estender a noite pela tarde que não se queria fazer noite.
Entramos no quarto. O calor, aí mais intenso, rodeou-nos, eu diria deu-nos um enorme abraço. A luz entrava pela persiana meio corrida. Era preciso fazer noite. Fechei a porta, corri o resto da tela entreaberta e esperançada saudei o calor para ficarmos de pazes feitas. Deitei, então, aquele pacote reluzente, que trajava apenas uma camisola de alças para além da fralda obrigatória, e soltei os primeiros acordes da canção de embalar ou que eu presumia tinha efeitos soporíferos: " O meu chapéu tem três bicos, tem três bicos o meu chapéu..." Do escuro próximo escutei então: " O que é bicossss? "
" Bicos são pontas! " E recomecei. Na penumbra o calor zurzia ao de leve a minha mão que compassadamente acompanhava a canção com pequeninos tapas de embalar no corpinho da bébé.
" Se não tivesse três bicos... " " O que é bicossss? ", a pergunta repetiu-se. " Bicos são pontas" e continuei " o chapéu não era meu. " Voltei ao princípio da canção, tive as mesmas perguntas, dei as mesmas respostas e de novo ao princípio e de novo as perguntas e de novo as respostas. Então, um silêncio absoluto. Adormeceu, suspirei. Ajeitei a fralda em gesto de despedida até amanhã e verifiquei que estava molhada. Fraldas molhadas não, era um postulado daquela congregação de mulheres sábias. Acendi a luz. Fui saudada por dois olhos enormes, um sorriso largo e o som antigo daquele entardecer: " O que são bicossss? "
Passadas duas horas, vários mini-chichis, cinco mudas de fraldas, saí do quarto, missão cumprida, a João a dormir e, na minha cabeça, três bicos a crescer um de calor, um de cansaço e um de muito carinho.

Tia Isinha

 

Sei, e é uma verdade absoluta, que foi nesse colo ancestral que nasceram as sementes da minha força.

Verdade sou uma sobrinha chatinha, com nariz chatinho e pés chatos, mas pelo que conta: Amo-te muito!

Maria João

 

publicado por mulheresforadehoras às 14:35
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Sexta-feira, 12 de Março de 2010

Onde o Luar é mais Luar (dedicado à casa da minha avó em Lamelas de cá)

Gosto de casas antigas

De paredes grossas

Revestidas de cal,

Onde o luar é mais luar

E os alicerces fundos,

Enlaçados nas nossas

Origens e raízes,

Nos fazem voltar

Dos mais distantes mundos.

 

Gosto dos seus recantos,

Das sombras e penumbras,

Das madeiras ressequidas

Onde o vento não é vento

Mas música e cantos,

Dos fantasmas, dos vestígios de outras vidas

E das marcas do tempo.

 

Gosto

Dos corredores compridos,

Em forma de tropelia

E de gargalhada,

Das salas pintadas de alegria

E dos serões até de madrugada.

Dos telhados baços,

Côncavos de musgo e de ninhos

E de quartos grandes

Onde não faltam espaços

P'ra confidências e carinhos.

 

Gosto da sua solidez

Desafiando, impunes, cada era

E do ar de extrema altivez

Com que passam por cada Primavera.

Gosto da sua ligação

Com a Família e a sua essência

E do peso que têm como tradição

E como referência!

 

Óh casas antigas de paredes brancas

Onde o luar é mais luar,

que pena ter os braços pequenos

E não vos poder abraçar!

 

 

ZeliaN

 

publicado por mulheresforadehoras às 16:15
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Longe, tão longe...

Naquela ria existe uma ilha

Longe, tão longe

Apenas um traço

Que mal se vê e quase que foge,

Sem cor nem reflexo,

Baço.

 

Um barco já velho,

Em forma de Lua, pela ria-espelho,

Toda mansidão,

Segue devagar

Na certeza crua

de se ir encontrar

Com a solidão.

 

E no céu que cobre

A ilha que eu digo,

Nesse céu azul,

Azul e anil,

Forma-se uma nuvem

Que me faz sonhar

Imenso contigo

Por se assemelhar

com o teu perfil...

 

 

ZeliaN

publicado por mulheresforadehoras às 12:27
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Quinta-feira, 11 de Março de 2010

Dividas e duvidas

Fui criada num gineceu como as mulheres da Grécia antiga.

Os homens eram um mal e um bem necessário, o seu carácter difuso não lhes permitia ser mais do que as pontas de um discurso afectivo no feminino. Eles surgiam e desapareciam. Quando entravam neste mundo - de saias, rendas, croché, cheiro a lavanda, contos de embalar, novelas de rádio com o ruído de fundo da velhinha maquina singer, copinhos de ginginha, cheiro a doce de gila, empadões de carne, tarefas caseiras - criavam algum medo misturado com uma alegria algo desenfreada. Cresci um espaço de mulheres para mulheres, com uma linguagem própria, silêncios e segredos por todas conhecidos.

O adeus era chorado em portas fechadas, comedidamente com pudor, a saudade surgia espelhada em fotos que aqui e ali marcavam territorialmente a sua presença, em sombras que as acompanhavam durante a noite.

Cresci os idealizando, os construindo através de relatos das suas façanhas, histórias coloridas dos seus feitos mirabolantes, eram eternos meninos como filhos, maridos ou pais, eram inacessíveis, míticos, fantásticos, eram do mundo, não nos pertenciam.

Verdade, as mulheres eu entendo, sei as de cor por osmose. Leio-as ao entrar nas suas casas, através dos brinquedos infantis que decoram com carinho os recantos, bibelots de um passado distante, bonecas em altares do seu panteão em honra do Deus da infância. Por elas tenho um carinho especial e uma admiração desmesurada. Foram elas que presenciaram a minha primeira lágrima e a enxugaram do meu rosto, tatuarem em mim o afecto no primitivo colo, rodearam a minha tristeza e alegria com um abraço, riram de mim e comigo. A elas devo quem sou a eles o meu espirito inrrequieto a minha constante duvida na compreensão da humanidade.

Maria João

 

publicado por mulheresforadehoras às 12:21
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Quarta-feira, 10 de Março de 2010

As certezas que tenho

 

Queridos leitores, descobrir a verdadeira mulher é um privilégio. Não ficar assustado outro. Unir-se a ela requer coragem.
Acredito que deve ser estranho, ela surge no meio de um rebanho de falsas mulheres, e o homem que ela escolhe se põe a tremer de desejo e temor. É diferente demais, causa ruído, confusão mental ao seu redor.
Apetece-me dizer a essas mulheres, essas Mulheres que tenho a honra de conhecer: a beleza não esta nas curvas e contra curvas do seu corpo, nem nas suas cabeleiras macias, muito menos nos seus lábios vermelhos. A beleza sente-se de olhos cerrados, quanto tu homem te transcendes. E se não és capaz de emigrar para a lua com ela, porque o peso da moral imposta fala mais forte, algo de vital te falta, talvez tempo contado na unidade de humanidade.
 
Maria João
publicado por mulheresforadehoras às 22:58
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Segunda-feira, 8 de Março de 2010

Dia Internacional da Mulher – Dia 8 de Março

 

Neste dia, do ano de 1857, as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fábrica, para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia para 10 horas. Estas operárias que, nas suas 16 horas, recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde, entretanto, se declarara um incêndio, e cerca de 130 mulheres morreram queimadas. Em 1910, numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido, em homenagem àquelas mulheres, comemorar o 8 de Março como "Dia Internacional da Mulher". De então para cá o movimento a favor da emancipação da mulher tem tomado forma, tanto em Portugal como no resto do mundo.
Com a celebração deste dia pretende-se chamar a atenção para o papel e a dignidade da mulher e levar a uma tomada de consciência DO VALOR DA PESSOA, perceber o seu papel na sociedade, contestar e rever preconceitos e limitações que vêm sendo impostos à mulher.
Não existe para mim nenhum texto que deixe tão claro a noção de paridade de complementaridade e unicidade do ser humano, que funda todos os arquétipos e de eles retire apenas o simples valor da pessoa – Homem e Mulher sem distinção, o seu intimo…o que realmente conta independentemente do género:
 
Kali decapitada de MarqueriteYourcenar
 
“Todos nós somos incompletos – disse o Sábio.
 – Todos somos divisão, fragmentos, sombras, fantasmas sem consciência. Todos julgámos chorar e exultar desde há séculos e séculos.
- Fui deusa no céu de Indra – disse a cortesã.
- E não estavas mais livre do encadeamento das coisas, nem o teu corpo de diamante mais protegido do infortúnio que o teu corpo de lama e carne. Quiçá, mulher sem fortuna que eras desonrada pelas estradas estejas mais perto de aceder ao que é sem forma.
- Estou cansada – gemeu a deusa.
Então, tocando com a ponta dos dedos nas negras tranças sujas de cinza:
- O desejo instrui-te sobre a inanidade do desejo – disse ele; - e a pena que sentes ensina-te que não vale a pena ter pena. Pacienta, ó Erro de que nós todos somos parte, ó graça Imperfeita na qual a perfeição toma consciência de si mesma, o Furor não necessariamente imortal….”
 
Maria João
publicado por mulheresforadehoras às 14:29
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Quarta-feira, 3 de Março de 2010

Tenho mais anos de sonho que de vida

 

 

De noite o meu corpo é efémero, nada consistente, assim como as pastinhas efervescentes de vitamina C, como todos os corpos deviam ser se Deus fosse outro. Sou capaz de atravessar paredes de betão armado, voar sem destino desenhando acrobacias no ar, distribuir generosamente alguns pontapés nos tomates, dizer a tabuada de cor e salteado, dar risadinhas, gargalhadas e saltar ao pé-coxinho brincado a macaca. Sonho muito, se não me falha a memoria sempre sonhei. Tenho mais anos de sonho do que de vida!

Sou feita de imagens sonhadas: árvores de folhas perene e raízes profundas, jardins frondosos, uma zebra vagueando na serra de Sintra mascando alfaces tenrinhas, um caracol pachola num canteiro no Jardim da Estrela, uma mulher de rodas baixas como eu mas com asas de andorinha, uma girafa espreitando uma janela de um 12 andar.

De manhã desperto para a realidade com o ronronar da minha gata, Maria da Luz, que aproveita para dar umas turras valentes. Verdade, também sou essa gata, pelo menos hoje, porque de dia também sou feita de imagens (contudo isso é segredo, pelo tanto agradecia discrição).

 

Maria João

publicado por mulheresforadehoras às 13:58
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Segunda-feira, 1 de Março de 2010

A destrutividade humana

"A agressividade é uma qualidade saudável ao alcance de todos os animais. Por isso, a agressividade humana representa, muitas vezes, penso eu, o melhor anti-depressivo do mundo. É claro que me refiro a sentimentos de agressividade  que se "soltam" em nós (mas que, não causando danos irreparáveis a terceiros, trazem, até, motivos para que, "atrás" de um pedido de desculpas, a nossa relação com eles melhore). Por outras palavras: a agressividade é um género de sistema imunitário que (ao proteger-nos) defende o melhor de nós. (A propósito disto recomendo vivamente a leitura de um livro, para mim obrigatório - " A Agressão - uma  história natural do mal ou para que é que o mal é bom" de Konrad Lorenz

 

A agressividade compulsiva (o vandalismo) ou aquela que, primeiro, se rumina e, depois, se exprime com frieza (a violência), já não são agressividade... mas destrutividade. Representarão elas uma característica da natureza humana, como se fosse um instinto mortífero que existe em todos nós? Não creio! A destrutividade faz parte das pessoas que vivem viradas unicamente para si, "enquistando " as suas dores e fantasiando, com megalomania, acerca das suas competências. É uma forma de imunodeficiência adquirida que, ao defender-nos, desconfiadamente, de tudo, nos afasta do melhor de nós.

A destrutividade humana não surge só sempre que se usa a força sobre a razão: há quem manifeste uma racionalidade aparentemente inatacável e que, nas suas relações pessoais, sem nunca perder a "razão", vandalize e violente. Também não surge pela falta de grandes causas. Um inimigo comum é, pelo contrário, uma espécie de "grande causa" ou de "bênção" para quem está mal consigo: tendo quem personifique o "mal", uma pessoa doente alivia-se de tudo o que, de mau, terá dentro de si...

 

 

ZeliaN

publicado por mulheresforadehoras às 13:01
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