. Pó vivo!
. As duas Casuarinas - Cont...
. Profecia Familiar - Bem q...
. Noticia de ultima hora - ...
. Tai
. Romantismo masculino/Toda...
. Quem tem uma Tia assim nã...
Quando era menina corria em dias de vendaval, corria pela simples vontade de querer levantar voo. Lembro-me que esperava pelas mais violentas rabanadas de vento, abria os braços como asas, dedinhos bem espalmados, esticava uma perna para trás, esperava a melhor oportunidade e fazia uma tesoura no ar, com a esperança que esses milenaríssimos de segundo fora do solo me permitissem levantar o tão almejado voou. Após cada tentativa frustrada sentia-me cada vez mais perto desse desiderato.
Verdade o meu cabelo era às três pancadas, mínimo, tinha portanto o corte aerodinâmico certo. Era também um pau de virar tripas, levezinha o que tornava essa quimera completamente exequível. Vendo bem os piscos voam e eu era um pisco que por engano de um Karma desregulado tinha tomado a forma de gente. Levava tão a peito essa ideia que um belo dia, na praia da areia branca resolvi saltar de um murro altíssimo, abri os braços estiquei-me em ares de certeza absoluta e estatelei-me violentamente, com essa proeza fiquei mais baixita uns valentes centímetros, as dores da queda escondi para mim, há muito que sabia que a minha crença era vista como mais uma das minhas loucuras de miuda alucinada.
Enfim, exposto isto, escusado será dizer que houve em mim um claro e inadmissível erro de transmutação de almas, reencarnei na forma errada, não sou para minha pena uma ave de 14 cm com o peito e a testa de cor laranja ferrugínea, monogâmica e territorial. Na próxima vida ou venho como pisco ou vou directo para o nirvana, não aceito outra alternativa, não aceito mais erros, bando de incompetentes cósmicos.
Maria João